sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Humberto de Campos entrevista Judas Iscariotes

Humberto de Campos entrevista Judas Iscariotes

 

O consagrado escritor Humberto de Campos encontra em Jerusalém, às margens do Jordão, o até hoje incompreendido Judas Iscariotes. Com ele conversa sobre a condenação de Jesus e realiza esclarecedora entrevista, ditada a Chico Xavier, em Pedro Leopoldo, em 19 de abril de 1935. Leiamo-la:

Nas margens caladas do Jordão, não longe talvez do lugar sagrado, onde o Precursor batizou Jesus Cristo, divisei um homem sentado sobre uma pedra. De sua expressão fisionômica irradiava-se uma simpatia cativante.

- Sabe quem é este? - murmurou alguém aos meus ouvidos. - Este é Judas.

- Judas?!...

- Sim. Os espíritos apreciam, às vezes, não obstante o progresso que já alcançaram, volver atrás, visitando os sítios onde se engrandeceram ou prevaricaram, sentindo-se momentaneamente transportados aos tempos idos. Então mergulham o pensamento no passado, regressando ao presente, dispostos ao heroísmo necessário do futuro. Judas costuma vir a Terra, nos dias em que se comemora a Paixão de Nosso Senhor, meditando nos seus atos de antanho...

Aquela figura de homem magnetizava-me. Eu não estou ainda livre da curiosidade do repórter, mas entre as minhas maldades de pecador e a perfeição de Judas existia um abismo. O meu atrevimento, porém, e a santa humildade do seu coração ligaram-se para que eu o atravessasse, procurando ouvi-lo.

- O senhor é, de fato, o ex-filho de Iscariotes? - perguntei.

- Sim, sou Judas - respondeu aquele homem triste, enxugando uma lágrima nas dobras de sua longa túnica. Como o Jeremias, das Lamentações, contemplo às vezes esta Jerusalém arruinada, meditando no juízo dos homens transitórios...

- E uma verdade tudo quanto reza o Novo Testamento com respeito à sua personalidade na tragédia da condenação de Jesus?

- Em parte... Os escribas que redigiram os evangelhos não atenderam às circunstâncias e as tricas políticas que acima dos meus atos predominaram na nefanda crucificação. Pôncio Pilotos e o tetrarca da Galiléia, além dos seus interesses individuais na questão, tinham ainda a seu cargo salvaguardar os interesses do Estado romano, empenhado em satisfazer as aspirações religiosas dos anciãos judeus. Sempre a mesma história. O Sanedrim desejava o reino do céu pelejando por Jeová, a ferro e fogo; Roma queria o reino da Terra. Jesus estava entre essas forças antagônicas com a sua pureza imaculada. Ora, eu era um dos apaixonados pelas idéias socialistas do Mestre, porém o meu excessivo zelo pela doutrina me fez sacrificar o seu fundador. Acima dos corações, eu via a política, única arma com a qual poderia triunfar e Jesus não obteria nenhuma vitória. Com as suas teorias nunca poderia conquistar as rédeas do poder, já que, no seu manto e pobre, se sentia possuído de um santo horror à propriedade. Planejei então uma revolta surda como se projeta hoje em dia na Terra a queda de um chefe de Estado. O Mestre passaria a um plano secundário e eu arranjaria colaboradores para uma obra vasta e enérgica como a que fez mais tarde Constantino Primeiro, o Grande, depois de vencer Maxêncio às portas de Roma, o que, aliás, apenas serviu para desvirtuar o Cristianismo. Entregando, pois, o Mestre, a Caifás, não julguei que as coisas atingissem um fim tão lamentável e, ralado de remorsos, presumi que o suicídio era a única maneira de me redimir aos seus olhos.

- E chegou a salvar-se pelo arrependimento?

- Não. Não consegui. O remorso é uma força preliminar para os trabalhos reparadores. Depois da minha morte trágica, submergi-me em séculos de sofrimento expiatório da minha falta. Sofri horrores nas perseguições infligidas em Roma aos adeptos da doutrina de Jesus, e as minhas provas culminaram em uma fogueira inquisitorial, onde, imitando o Mestre, fui traído, vendido e usurpado. Vítima da felonia e da traição, deixei na Terra os derradeiros resquícios do meu crime, na Europa do século XV Desde esse dia, em que me entreguei por amor do Cristo a todos os tormentos e infâmias que me aviltavam, com resignação e piedade pelos meus verdugos, fechei o ciclo das minhas dolorosas reencarnações na Terra, sentindo na fronte o ósculo de perdão da minha própria consciência...

- E está hoje meditando nos dias que se foram... - pensei com tristeza.

- Sim... estou recapitulando os fatos como se passaram. E agora, irmanado com Ele, que se acha no seu luminoso Reino das Alturas que ainda não é deste mundo, sinto nestas estradas o sinal de seus divinos passos. Vejo-O ainda na cruz entregando a Deus o seu destino... Sinto a clamorosa injustiça dos companheiros que O abandonaram inteiramente e me vem uma recordação carinhosa das poucas mulheres que O ampararam no doloroso transe... Em todas as homenagens a Ele prestadas, eu sou sempre a figura repugnante do traidor... Olho complacentemente os que me acusam sem refletir se podem atirar a primeira pedra... Sobre o meu nome pesa a maldição milenária, como sobre estes sítios cheios de miséria e de infortúnio. Pessoalmente, porém, estou saciado de justiça, porque já fui absolvido pela minha consciência no tribunal dos suplícios redentores.

Quanto ao Divino Mestre - continuou Judas com os seus prantos - infinita é a sua misericórdia e não só para comigo, porque, se recebi trinta moedas, vendendo-O aos seus algozes, há muitos séculos Ele está sendo criminosamente vendido no mundo a grosso e a retalho, por todos os preços, em todos os padrões do ouro amoedado...

- E verdade - concluí - e os novos negociadores do Cristo não se enforcam depois de vendê-LO.

Judas afastou-se tomando a direção do Santo Sepulcro e eu, confundido nas sombras invisíveis para o mundo, vi que no céu brilhavam algumas estrelas sobre as nuvens pardacentas e tristes, enquanto o Jordão rolava na sua quietude como um lençol de águas mortas, procurando um mar morto.



Fonte: Livro Crônicas de Além Túmulo, de Humberto de Campos / F. C. Xavier

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Texto de Reflexão: Livro Antologia Mediúnica do Natal


Meditando o Natal

Emmanuel

 

Na exaltação do Natal do Senhor, acalentemos nossa fé em Jesus, sem nos esquecermos da fé que Jesus deposita em nós.

Não desceria o Senhor da comunhão com os Anjos, sem positiva confiança nos homens.

É por isso que, da Manjedoura de Simplicidade e Alegria à Cruz da Renunciação e da Morte, vemo-lo preocupado na recuperação das criaturas.

Convida pescadores humildes ao seu ministério salvador e transforma-os em advogados da redenção humana.

Vai ao encontro de Madalena, possuída pelos adversários do bem, e converte-a em mensageira de luz.

Chama Zaqueu, mergulhado no conforto da posse material, e faz dele o administrador consciente e justo.

Não conhece qualquer desânimo, ante a negação de Pedro, e nele edifica o apóstolo fiel que lhe defenderia o Evangelho até o martírio e a crucificação.

Não se agasta com as dúvidas de Tomé e eleva-o à condição de missionário valoroso, que lhe sustenta a causa, até o sacrifício.

Não se sente ofendido aos golpes da incompreensão de Saulo, o perseguidor, e visita-o, às portas de Damasco, investindo-o na sua posição de emissário de Sua Graça, coroando de claridades eternas...

A fé e o otimismo do Cristo começaram na descida à estrebaria singela e continuam, até hoje, amparando-nos e redimindo-nos, dia a dia...

Assinalando, assim, os júbilos do Natal, recordemos a confiança do Mestre e afeiçoemo-nos à sua obra de amor e luz, tomando por marco de partida a nossa própria existência.

O Senhor nos conclama à tarefa que o evangelho nos assinala...

Nos primeiros três séculos de Cristianismo, os discípulos que lhe ouviram a Celeste Revelação levantaram-se e serviram-no com sangue e sofrimento, aflição e lágrimas.

Que nós outros estejamos agora dispostos a consagrar-lhe igualmente as nossas vidas, considerando o crédito moral que a atitude d'Ele para conosco significa...

Aprendamos, trabalhemos e sirvamos, até que um dia, qual aconteceu ao velho Simeão, da Boa Nova, possamos exclamar ante a Presença Divina:

"Agora, Senhor, despede em paz o teu servo, segundo a tua palavra, porque, em verdade, meus olhos já viram a salvação."

 

 

 

 

Texto de reflexão de 10/12/2008

Livro Antologia Mediúnica do Natal

Psicografado por Chico Xavier

Enc.: Natal de Luzes II [Joanna de Ângelis]


Aquele foi um Natal de luzes, que iniciou era nova para a humanidade, em desalinho.  Permite que este seja o teu momento luminífero e transformador, com Ele nascendo nos teus sentimentos e clareando a noite afligente em que te encontras em um permanente Natal de luzes.

Joanna de Ângelis


 










terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Divulgação: Biografia de Paulo de Tarso


Paulo de Tarso

Apóstolo dos gentios e Mártir

 

Era inicialmente chamado de Saulo, nascido na cidade de Tarso, capital da província romana da Cilícia, que atualmente pertence à Turquia, fabricante de tendas. Depois de Jesus, é considerado a figura mais importante do cristianismo.

Era um judeu da Diáspora (Dispersão - na altura já havia uma diáspora de judeus que viviam espalhados pelo mundo, sobretudo na Pérsia, mas também em torno do mediterrâneo, em Alexandria e no norte de África, na Turquia, Grécia e outras partes do Império Romano, incluindo a atual Espanha), de uma importante e rica família.

Nasceu numa data desconhecida mas "sem dúvida antes do ano 10 da nossa era" (Étienne Trocme). Seu pai, em circunstâncias que se desconhece, adquiriu a cidadania romana mantendo a fé judaica, educou-o na tradição judaica. Durante toda sua vida sua cidadania romana foi um meio de proteção física. Como ele próprio diz, foi circuncidado ao oitavo dia e mantém-se sempre na lei mosaica. Diz-se mesmo um Fariseu.

A sua formação primária foi feita numa escola de cultura grega, como atestam as suas cartas. Mas ele afirma que recebeu também o ensino por parte de rabinos. Começou a receber aos 14 anos a formação rabínica, sendo criado de uma forma rígida no cumprimento das rigorosas normas dos fariseus, classe religiosa dominante daquela época, e ensinado a ter o orgulho racial tão peculiar aos judeus da antiguidade.

Quando se mudou para Jerusalém, para se tornar um dos principais dos sacerdotes do Templo de Salomão, deparou-se com uma seita iniciante que tinha nascido dentro do judaísmo, mas que era contrária aos principais ensinos farisaicos. 

Dentro da extrema honestidade para com a sua fé e sentindo-se profundamente ofendido com esta seita, que se chamava cristã, começou a persegui-la, culminando com a morte de Estêvão, diácono grego e grande pregador cristão, que foi o primeiro mártir do cristianismo.

O argumento de Paulo na sua perseguição aos seguidores do "Caminho" era a defesa da "tradição dos pais" e da lei mosaica, que ele via como ameaçada pelos seguidores de Jesus. Alguns autores chegam mesmo a colocar a hipótese de Paulo ter sido um zelote, dado o seu fervor religioso. Também o fato de sua vida ter sido colocada em perigo após ter tomado partido pelos cristãos leva Étienne Trocmé a dizer que isso "corresponde bem ao pouco que sabemos sobre a organização do partido zelote".

No ano de 32 D.C., dois anos após a crucificação de Jesus, Saulo viajou para Damasco atrás de seguidores do cristianismo, principalmente de um, que se chamava Barnabé. Na entrada desta cidade, teve uma visão de Jesus, que em espírito lhe perguntava: "Saulo, Saulo, por que me persegues?". Ficou cego imediatamente. Foi então levado para a cidade. Depois de alguns dias, um discípulo de Jesus, chamado Ananias, foi incumbido de curá-lo. Após voltar a enxergar, converteu-se ao cristianismo, mudando o seu nome para Paulo.

Paulo, a partir de então, se tornaria o "Apóstolo dos Gentios", ou seja, aquele enviado para disseminar o Evangelho para o povo não judeu.

Em 34 D.C., foi a Jerusalém, levado por Barnabé, para se encontrar com Pedro e Tiago, líderes da principal comunidade cristã até então.

Durante 16 anos , após sua conversão, ele pregou no vale do Jordão, na Síria e na Cilícia. Foi especialmente perseguido pelos judeus, que o consideravam um grande traidor.

Fez quatro grandes viagens missionárias: 1ª Viagem (46-48 D.C.), 2ª Viagem (49-52 D.C.), 3ª Viagem (53-57 D.C.), 4ª Viagem (59-62 D.C.), sendo que na última foi à Roma como prisioneiro, para ser julgado, e nunca mais retornou para a Judéia.

Certamente escreveu inúmeras cartas, mas somente 14 destas chegaram até nós, chamadas de Epístolas Paulinas, que são:

?      aos Romanos;

?      1ª e a 2ª aos Coríntios;

?      aos Gálatas; aos Efésios,

?      aos Filipenses;

?      aos Colossenses;

?      1ª e a 2ª aos Tessalonicenses;

?      1ª e 2ª a Timóteo;

?      a Tito;

?      a Filemon e

?      aos Hebreus.


Através de suas cartas, Paulo transmitiu às comunidades cristãs e aos seus discípulos uma fé fervorosa em Jesus Cristo, na sua morte e ressurreição. A esta fé soma-se um fator fundamental: o seu temperamento, que era passional, enérgico, ativo, corajoso e também capaz de idéias elevadas e poéticas.

No ano de 64 D.C., foi morto pelas Legiões Romanas, nas perseguições aos Cristãos instauradas por Nero, depois do grande incêndio de Roma.

 

Fonte: www.espiritismogi.com.br, http://pt.wikipedia.org/wiki/Imagem:Paul_of_Tarsus.jpg

Enc.: Mensagem de Joanna de Angelis - ÊMULO DE JESUS


ÊMULO1 DE JESUS



Os ásperos caminhos da Úmbria foram-lhe a confortável senda para o ministério do amor.

Os rigorosos invernos fizeram-se-lhe o agasalho para o espírito imbatível.

As rudes incompreensões tornaram-se-lhe o fogo purificador para o forte metal da tarefa.

As duras renúncias e flagícios2 constituíram-lhe o apoio para a dedicação total.

Os espinhos cravados nas carnes da alma transformaram-se nas rosas sublimes do apostolado e da abnegação.

As caminhadas esmoleantes para os fustigados pela lepra e pelo abandono, forjaram-lhe as fibras da santificação.

O amor, na sua mais absoluta expressão humana, exalçou-lhe3 o amor divino emboscado no ser sensível.

As refregas4 da atividade infatigável, as lutas pela paz, a viagem em favor da "terra do Senhor" , o esquecimento de si mesmo, a confiança total e a visão esplendorosa do Cristo, que o assistia, alçaram-no à posição de êmulo perfeito do Mestre Inconfundível.

Ninguém que imitasse o amor de Jesus com tanto alento!

Amante da natureza e "trovador de Deus" , o cancioneiro da humildade fez-se a melodia sem voz de todas as vozes com os seus, aqueles com os quais confabulava.

Pregador do exemplo, apóstolo da ação, irmão do sofrimento, Francisco, o "pobrezinho", logrou reunir o tesouro da fé inquebrantável5 e de força insuperável que dele fez o fiel construtor de um mundo novo, que o novo mundo por pouco não destruiu completamente.

Diante dele, recorda-te Jesus.

Meditando nele, acompanha-o até Jesus.

Orando com ele, avança para Jesus.

Não aceites colocações impossíveis quando chamado à trilha da dedicação cristã.

Nas novas Porciúnculas6, nas recentes vias das Assis megalópoles, ergue no coração o eremitério7 para o amor e sai a cantar bênçãos e consolações para os irmãos do mundo em agonia.

Estigmatiza-te com as feridas do sentimento em sublimação e abre as comportas do espírito à embriaguez do amor.

Faze da vida um poema simples, uma canção de simplicidade, uma oração simples exaltando os bens inconfundíveis do Evangelho, que deves imprimir nos atos de toda a hora.

Amor a Deus, amor aos animais, amor a todas as coisas.

Pensando nas santas aspirações e ideais de Francisco de Assis, o "esposo da pobreza" e o dedicado servo do Cristo, esforça-te até ao sacrifício total, rogando ao Senhor que faça de ti "instrumento de sua paz", em louvor de todas as criaturas.



Joanna de Ângelis
Livro: A serviço do Espiritismo [Divaldo P. Franco]



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êmulo - competidor, rival; no sentido de "emular" ou buscar igualar ou superar outrem
flagícios - grande desonra; afronta pública.
exalçar - exaltar.
refregar - lutar; combater; insistir; teimar.
inquebrantável - que não se pode quebrantar; que não se pode quebrar, derrubar.
Porciúncula - festa da ordem de S.  Francisco, que se festeja em 2 de Agosto (grafado com inicial maiúscula).
eremitério - lugar habitado por eremita; retiro de eremita; sítio isolado.


 

Enc.: Boa Nova

"Por isso te lembro: despertes o dom de Deus que existe em ti."[Paulo - II Timóteo 1:6]